sexta-feira, 16 de novembro de 2007

QUANDO EU ERA MENINA

ELIANA R. da C. MIRANZI

Quando eu era menina, meu pai tinha uma fazenda. Lá pelos lados do Prata, região bonita, verde, cheia de vida, com suas serrinhas e belas propriedades rurais. Para ir até lá, passávamos por Campo Florido e a viagem era longa, no sentir de uma menina. Muita curva na estrada de terra, muita ponte de madeira, pastagens...
O sentimento que tenho ao lembrar-me das idas para a fazenda é de algo muito, muito gostoso. Eu adorava chegar naquele lugar, com sua entrada bordejada de palmeiras (acho que eram guarirobas...), dando ao final da estradinha com a antiga e bela casa da sede, da qual guardo com carinho uma foto. Os jardins, o pomar, (que ninguém chamava de pomar, mas sim de quintal), cheio de frutas, a horta, antigos e queridos empregados, que nos mimavam e tinham uma lealdade incompreensível aos dias de hoje. O barulho do gado no curral, cavalos, o carro de bois, a labuta do cotidiano numa fazenda de antigamente... Enfim, saudades. Muitas saudades do lugar, das pessoas, dos cheiros, da natureza generosa e bela que nos cercava. O ciclo natural da vida se cumpria, e sempre se podia contar com “o tempo das goiabas, o tempo das mangas, a época da chuva, a estiagem”, etc. Havia um maior respeito pela natureza. Um, como que maior, temor.
As pessoas se vão, os lugares trocam de donos, a vida passa, as coisas mudam. Mas por que pensar e falar nisso, assim, de uma hora para outra?
Pelo sentimento que ando tendo ao sair da cidade e observar como estão nossos campos hoje. Nossa zona rural. As fazendas, onde estão? Tenho dificuldade em reconhecer os locais. Sinto-me perdida em estradas e caminhos que me eram tão familiares. Pois onde vou, só vejo cana. Nada mais que cana, cana, cana. As pastagens naturais, as roças, as capoeiras e varjões, as queridas árvores retorcidas do nosso cerrado, elas simplesmente desapareceram. Não consigo entender ou reconhecer mais a paisagem da região onde nasci e onde vivo. Fico literalmente perdida, confusa. Mudaram o lugar ou fui eu quem mudou?
Não sei. Só sei que uma das coisas mais chocantes que ando constatando é que fizeram desaparecer também nossa maior riqueza natural, nosso berçário de vida aqui do cerrado, nossa preciosíssima jóia, insubstituível: as lindíssimas veredas de buritis, locais em que havia sempre olhos d’água, minas, nascentes. Justamente quando o mundo inteiro grita pela falta de água, tenta conscientizar as pessoas para que cuidem de suas águas, não desperdicem, aqui tratam de acabar ligeirinho com nossas nascentes. Veredas de buritis. Fontes de vida. Até Guimarães Rosa, nosso ilustre mineiro, as destacou mais de uma vez em seus livros. E alguém se põe a fazê-las desaparecer. Sumir do mapa. Morrer.
Mas quem é ou quem são estas pessoas que, com seus enormes tratores, da noite para o dia, conseguem realizar crimes tão brutais? Sim, crimes, contra o meio ambiente, contra a vida de enorme e inestimável número de espécies de plantas e animais que só nas queridas veredas poderiam continuar existindo. Esta gente não pode ser filha daqui, não se cospe no chão de nossos antepassados. Esta gente não pode ter estudado, freqüentado boas escolas, ter tido uma formação moral decente. São bárbaros, invasores que chegam como chegavam os vândalos da idade média, a saquear, destruir e depois ir embora. Esta gente que sai por aí, destruindo tudo o que encontra, na certeza de que lucrarão com a cana virando álcool, para ser vendida aos gringos, só pensando nos lucros, esses criminosos terão, (além de uma enorme decepção quanto aos lucros), de carregar o pesado fardo da culpa, quando, daqui a bem pouco tempo puderem constatar a enormidade do crime que cometeram. E espero que tenham também algum remédio muito bom contra os pesadelos que os assombrarão noite após noite, sem descanso. Pois remédio para a natureza, este, eles, iletrados e idiotas que são, não conseguirão inventar.

Eliana Rodrigues da Cunha Miranzi é mãe, avó, professora e participante dos passeios “O tatu vai a pé”.

UBERABA: TERRA DO PECADO?

Os sons na janela pareciam os de pedras sendo atiradas. O vento enlouquecido prenunciava a tempestade que não tardaria. Estrondos vinham do céu; raios intermináveis caíam sobre a cidade. No meio da madrugada um pesadelo se materializava. Parecia um “castigo”, um aviso, vindo da Natureza, ou do Criador, apunhalados por aquelas mãos humanas que tudo destroem em nome do poder e do dinheiro.
“- É o sinal dos tempos”, diriam uns, “- O prenúncio do Apocalipse”, diriam outros.
No dia mais quente do ano (ao menos em sensação), talvez, o céu tomou-se de trovões e relâmpagos. Impossível dormir em paz e sereno. Presto atenção no que parece dizer a Natureza e o Criador: “- Uberaba está em Pecado!!!”.
Os valores espirituais e morais de nossa terra estão sendo maculados. Jesus já dizia que o céu e o inferno está dentro de nós. Porém, uma “satanização” parece pairar sobre Uberaba:
a corrupção se espalha como vírus, a ganância e o lucro “fácil” definitivamente não mais medem conseqüências. É o leite adulterado e contaminado; é o prefeito e seu secretário réus do mensalão; é a saúde que vira caso de polícia; é o juiz que decreta prisão do prefeito; é a polícia acuada e constrangida; é vereador que se esconde debaixo das “barbas do poder”.
“- Uberaba está em pecado!!!”, parece dizer na tempestade a voz de Deus e da Natureza.
Nossa dignidade está ferida, nossa esperança está manchada. Que nossos filhos perdoem aqueles que maculam a terra de Nossa Senhora da Abadia, a terra de Chico Xavier, dos Pastores, Pais de Santo, de Dom Benedito e Monsenhor Juvenal Arduini, Dona Aparecida do Hospital do Pênfigo, Antusa, dos Dominicanos, Carmelitas, Franciscanos... enfim, que Deus nos perdoe por termos “entregue” Uberaba em mãos “satânicas”, em mãos que maculam o “Nome do Pai”, indignas de fazer “o sinal da cruz”. Porém, como dizia Jesus: “Arrancada será toda planta que meu Pai celestial não plantou.”
“Lobos em pele de cordeiros”. “Desenvolvimento ecologicamente correto” enterrado nas covas anônimas e noturnas dos canaviais que escondem cadáveres de árvores e animais inocentes; que incendeiam nossas matas e nosso ar, nos sufocam e nos cozinham literalmente, como sapos dentro de uma panela que aos poucos se aquece, até ferver – bem que Al Gore nos avisou sobre esse “aquecimento global” local, que nos “acostumaríamos” com esse calor “infernal”, até que alguém nos “resgatasse” ou acordássemos para a realidade que nos cerca... e rezar para que não seja tarde demais - .
A tempestade se desvanece. O calor porém, continua intermitente. Mas os novos “barões” da terra se refugiam em suas mansões climatizadas, alheios ao que acontece do lado de fora, e sonham, decerto, sem remorso, hipnotizados pelo “Poder do Império” que agora revivem, não mais com a “coroa” ou o “chicote da escravidão”, mas com a soberba dos decretos, leis delegadas, fórmulas químicas da fortuna fácil, e o medo que subjuga, nas mesmas terras do “Brasil Colônia” da cana de açúcar que os “Senhores de Engenho”, agora renascidos, continuam a “escravizar” e a mandarem na “Coroa” destituída em “República”, avalizando “legalmente” a opressão e o escárnio de seus atos e corações impuros, nas terras onde corriam “o leite (não contaminado) e o mel (que infelizmente substituímos pelo açúcar branqueado pela soda)”.
Qual será a “penitência” de Uberaba Senhor, para que “não nos deixeis cair em tentação, e livrai-nos de todo mal?” (escrito na madrugada do dia 30 de outubro)

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

TATU VAI À PÉ: equilíbrio físico e mental junto com a natureza

O projeto iniciou suas atividades em junho de 2006 com o propósito de reunir pessoas que tinham interesse num mesmo objetivo: utilizar o contato com o meio ambiente natural para equilibrar o desgaste físico e mental que o dia-a-dia nos impõe.
Para isto, a coordenadora e idealizadora do projeto, Mirna Miranda, procurou a Secretaria de Agricultura para conseguir o contato com os fazendeiros da nossa região que tivessem interesse de receber este grupo que passaria o dia em suas propriedades.
"Num primeiro momento foram cinco os interessados e hoje já contamos com oito propriedades".
O trabalho de pesquisa evoluiu e o projeto se tornou um Trabalho de Conclusão de Curso(TCC) em uma formação de Artes Corporais Chinesas que Mirna Miranda concluiu em maio de 2007, em São Paulo.
Por isso, esta proposta está fundamentada nas teorias da MTC (Medicina Tradicional Chinesa), pois esta é a área de atuação profissional da terapeuta e educadora Mirna Miranda desde 1987. Madeira, Fogo, Terra, Metal e Água, daí o nome Cinco Elementos.
O contato do homem com a natureza sempre foi compreendido pelos chineses antigos de uma forma que hoje, nós ocidentais, entendemos melhor e com maior facilidade.
Eles dizem que: "tudo que acontece na natureza tem uma ressonância no homem e vice-versa, porque na verdade, somos regidos pelas mesmas leis cósmicas. O homem é o cosmo em miniatura e participa, por sua natureza, de todo acontecimento macrocósmico".
Na prática seria fácil identificar isto, pois muitas pessoas reconhecem o quanto se sentem bem em contato com a natureza e muitas vezes nem sabem porque.
Na verdade, desta forma, estamos "em casa" quando ficamos despreocupados e com "permissão" de estarmos à toa, sem fazer nada, olhando para o céu, escutando os pássaros ou o barulho das águas de um rio ou de uma cachoeira.